domingo, junho 10

Paz

Eu adoro a sensação de estar deitado em meu quarto as seis da tarde, com as luzes apagadas, nada de TV, nada de musica, som nenhum,  apenas desfrutando da beleza caótica do barulho dos cães da minha rua que latem entre si, o barulho dos ônibus que sobem e descem a avenida, o barulho dos trens que correm pesados por sobre os trilhos, lotados de gente, pessoas soadas, cansadas, sem estimulo, loucos, fanáticos religiosos, ateus carregando suas bolsas com marmitas sujas, estudantes com seus livros e cadernos estúpidos, sorrisos, jogos de baralho, tarados, senhoras, gente abarrotada por cima de gente eu estou aqui sozinho, sem dor, sem cansaço, sem sentimento nem um sobre a cama, como um paciente em coma, que não reage a nada, apenas escuta o mundo se de gladiando lá fora, eu me sinto protegido, de mim, quando estou aqui, não há lugares que possa estar para fazer nada de errado, não tenho ninguém aqui mandando em mim, nada de filas, nada de carros, não preciso competir com ninguém, e quantos nascem, quanta dor sobre noticias de morte, e quantas mães choram de emoção vendo sair de si sua parte para continuar a humanidade, quantos estão transando, ou frustrados por não terem alguém, quantos agora mesmo estão enchendo a cara de pinga barata nos botecos, sem esperanças, quantas mulheres estão apanhando de maridos violentos, e quantos maridos trabalhadores estão sendo traídos em motéis caros, quanta vida lá fora, quanta desgraça, mas eu continuo aqui deitado imune, ileso a tudo, uma hora terei de levantar, e voltar a a correr nesta roda de hamster chamada vida, mas por enquanto continuo aqui deitado no escuro, essa é minha paz, as pessoas associam paz com a cor branca, com luz, com pastos verdejantes, quanto a mim paz é trevas, é caos mas não em mim, um lugar aonde não me vejo a paz é ausência de tudo, o silencio, a paz se encontra aonde eu nada posso encontrar nem a mim