quarta-feira, março 2

O conto do menino molhado


Que frio! Exclamou um homem comum ao fechar a janela do seu apartamento, e observar que alguém, perambulava como um fantasma, vagando sem rumo naquela noite gélida.

Ele era adolescente tinhas no máximo 16 anos e não era menino de rua desses que deixam suas casas e vai morar de vez na rua, ele era apenas um jovem problemático que morava com uma irmã louca, tão louca ao ponto de em menos de três anos ter passado por uma mutação de sentimentos que a levou do estado mais belo de compaixão e companheirismo a esse garoto, ao estado de repulsa desconfiança, e porque não dizer ódio do menino.

Ele perdeu os pais ainda pequeno, coisa comum até, nada muito trágico apenas um câncer, e um problema cardíaco, duas patologias, que o fez separar pra sempre de seus pais adotivos, sim porque dos pais biológicos formam doenças mais graves e menos letais que os levaram, o sentimento de abandono o acompanhava desde muito cedo, talvez e isso seja um conjectura minha, o acompanhou desde o ventre, passando pelos momentos que ficara sozinho por horas em seu bercinho enquanto sua mãe adolescente procurava algo que nunca achou na rua.

Mas o destino o colocou em uma família, com direito a pai mãe e irmãos bem mais velhos, e também o brindou com momentos bons, natais, aniversários, a, mas é claro o destino não é tão simpático né, ele viu sua mãe morrer aos poucos, e seu pai definhar com um câncer maldito, que o levou quando ele tinha sete anos, a imagem do caixão ficou gravado em sua mente como que a imagem de um ritual de passagem, não para o pai, mas para ele mesmo, estado de discernimento de que a vida é composta de percas irreparáveis, mas às vezes nos da chance de reconstruir outra historia com os fragmentos que sobram.

As muitas humilhações que passou antes e depois da morte de seus pais, a constantes crises de choro compulsivo, e o sentimento de tristeza e fragilidade o fez transformar a relação com sua irmã mais velha numa espécie de aliança sagrada, neste momento ela representava pra ele, uma mãe, uma amiga, uma confidente, uma protetora, e tudo mais o que uma criança naquele estado precisava ela pôr desenvolvia o sentimento maternal, porem paralelamente, concorrendo com uma patologia mental, que crescia a cada dia mais que funcionava como uma tecla delete, sendo constantemente apertada e deletando aos poucos a noção de carinho e as lembranças ou mais ainda os sentimentos por ele, só que com o detalhe que o menino não tinha esta compreensão apenas perguntava aos céus, e a terra o porquê de tanta mudança o porquê o abandono se repetia desta vez encarnado e mais cruel.

Mas vamos voltar a narrar a historia, de fato essas historia não tem nada de especial nem um desfecho antológico, nem ao menos pode ser usada como parábola, apenas é meu desejo de relato, de expurgar certos demônios, com esse quadro montado o menino tentava levar uma vida normal, mas não era possível, sendo constantemente expulso de casa, e chamado a retornar em curtos espaços de tempo, ia dentro de si minando a estrutura familiar, seu ouvidos já não aguentavam mais escutar tantas ofensas, e seus lábios não suportavam mais rebate-las com outras ofensas, o que deixava seu coração cada dia mais necrosado, seu amigos eram poucos mais leais, um deles um menino que se julgava satânico, adorava andar de preto com capas e amuletos satânicos parecendo um exu juvenil, mas que não era capaz de matar uma formiga, e outros loucos que encontrou pelo caminho da vida, caras legais que o ensinaram a beber, a ouvir som, e que nunca o oprimiram com falsas demonstrações de carinho.

Pois bem, é simples, é curto esse relato, mas intenso no ponto de vista psicológico, ele chegou a casa, largou sua mochila no chão e deitou, colocou um cd do iron mainden e relaxou durante um tempo, sua irmã preparou um suculento almoço, ele comeu tomou banho e aguradou um amigo chegar para fazerem um trabalho da escola, o amigo chegou, fizeram o trabalho, e ficou depois vendo alguns vídeos, surpreso com o tratamento de sua irmã ele se alegrou, e falou alto, deu risadas, e celebrou dentro de sim um momento de paz e comunhão, a campainha tocou ele foi atender, nossa parecia um dia perfeito agora além de tudo isso me aparece à menina que ele vez ou outra trocava uns beijinhos e algo mais, ele pediu que o amigo aguardasse ali com sua irmã que ele iria resolver um probleminha, levou a garota a uma pracinha, trocou alguns beijos, e a levou para casa, na verdade ela só queria companhia pra casa, pois estava saindo da escola e resolveu passar pra ver o ver e dar uns beijos rápidos, pronto ele voltou pra casa cerca de 30 minutos depois em estado de graça, nossa quanta coisa boa hoje né, beijos, amigos, carinho, almoço, tudo estava perfeito seria um sonho daqueles que acordamos e tentamos voltar?

Mas ele chegou, tocou a campainha, esperando em frente a grande porta de madeira marrom, observava se sua irmã apareceria na sacada do sobrado para ver que era como era de praxe, esperou um tempo e nada, quase nas pontas do pé tocou de novo a campainha, e nada, ué? Será que a campainha quebrou? Com suas mãos fracas, bateu a porta duas ou três vezes, e nada, um sentimento de medo começou a percorrer seu corpo, como que soubesse que algo de ruim se aproximara já bem mais nervoso deu murros fortes na porta até, que escutou a voz de sua irmã vindo do alto, gritando algo que parecia um palavrão, ele disse abre aqui preciso entrar esta frio, ela sem mais respostas entrou pra dentro e voltou com uma caixa nas mãos, ele reconheceu era uma caixa que ele grudava alguns CDs, e objetos que gostava, observou que seu amigo estava ali ainda refém daquela situação, sua irmã começou a arremessar seus pertences lá de cima ele só conseguiu observar eles se quebrarem no impacto com o chão, ele chorava, não, por favor, ela com ódio nos olhos gritava , vai embora se não vou quebrar mais, hoje você não dorme em casa, vai embora, mas por quê? Perguntou ele, mas de fato essas pergunta sempre foi em vão.

Apenas de camiseta e calça, e seu inseparável all star com fome, sentiu gradualmente em sua pele temperatura mudar, perambulou algumas horas sem rumo, cheio de perguntas na alma, resolveu voltar pra casa e tentar entrar, a resposta agora foi ainda mais hostil e o fez chorar em frente de casa, sentado na guia da calçada, se sentindo um mendigo precoce, alias esses sentimento de viraria um morador de rua em breve, o perseguia muito naqueles dias, saiu à fome já era insuportável, passou na casa de um amigo, e lá comeu, mas não teve coragem de contar o que estava acontecendo se sentiu envergonhado, pelo fato de ter alguém que o impedia de entrar em sua própria casa, sem nem um motivo aparente apenas pela loucura invisível que a essa altura ele não compreendia.

Já estava tarde e pra onde ir? Ele caminhava nas ruas por volta das 11 da noite, sem a menor ideia de onde passaria a noite, passou perto de um riozinho fétido, e observou um carro abandonado no fim da rua, pensou que talvez ali fosse um bom hotel até essa tribulação passar e sua irmã o aceitar de volta e o perdoar do crime que não cometeu, mas antes fez um prece, talvez Deus convencesse ela de deixa-lo, passar a noite em sua cama.

Foi antagônico as palavras bíblicas, pois ele bateu e não foi aberto, buscou uma irmã sã e não achou desta vez já passava da meia noite o frio era muito, e ela resolveu ajudar, da sacada do sobrado despejou uma chaleira de agua fervendo, ele porem não pode ser ajudado por esse carinho porque pulou rapidamente pro meio da rua, sentindo apenas o respingar fervente no seu braço, mas nada que pudesse o queimar. Eu to falando ou some daqui ou vou derrubar um balde agua fervente em você seu marginal, ta bom pedindo com tanto carinho assim né, ele resolveu que ali não seria um bom lugar para estar, procurou o carro abandonado, e ele estava ali de braços, ou melhor, portas abertas para receber seu ospide, nessa altura julgo desnesesario relatar a gama de sentimentos ruins que se passava por dentro dele.

Ele procurou espaço entre os cacos de vidro quebrados no banco de traz, e sua magreza o facilitava de adentrar e achar lugar deitou, fechou os olhos e o cansaço físico se sobrepôs, a qualquer tristeza, ele literalmente desmaiou feliz de certa forma por poder passar a noite ali, pois é a natureza que esta alheia a essa historia, tratou de preparar um surpresa ao nosso nada herói, era 3 da manhã quase 3 horas de sono e ele acordou tremendo assustado, e sem entender nada, havia despencado uma chuva torrencial que atravessou as janelas abertas do carro e banhou o menino sem a menor misericórdia, foram poucos instantes até ele pensar e agir, saiu correndo uma rua que não encontrava nem um toldo pra se abrigar, achou em fim um na avenida e ali ficou tremendo de frio, muito, mais muito frio, tirou a camisa e torceu, ficou sem camisa pulando pra tentar esquentar o corpo, mas não adiantava, o frio era tanto e p sentimento de derrota também, que os dois competiam entre si pra saber quem era o maior no reino da consciência do menino.

Percebeu que estava debaixo do toldo de uma pizzaria, e que lá dentro tinha um radio ligado, tentou ligar seus sentidos ao radio e ouviu o locutor anunciar a hora, 3.30 da manhã e a musica que começou a tocar era como uma onda no mar, dizendo que tudo passava que tudo sempre passaria talvez uma mensagem a esse menino, que no momento só queria que o frio passa-se, seu corpo estava ficando roxo, suas extremidades totalmente cianóticas, seus dentes batiam se batiam de forma histérica, seus pensamentos começaram a se confundirem, seu corpo caiu no chão se se contorcia numa agonia de morte, ele já não sabia onde estava e o que estava acontecendo, passou algumas horas, mas seu espirito resistiu firme e não descolou do corpo.

Quase desfalecido a hipotermia o dominava, quando der repente sentiu alguém se agachar, perto dele, e dizer: Cara o que é isso? Você esta roxo, ele olhou e reconheceu seu amigo satânico, que tirou imediatamente sua blusa e o cobriu, o abraçou, e o, pois de pé, ele estava indo a escola, mas desistiu na hora percebendo o estado de seu amigo que não podia falar, apenas batia os dentes, o levou pra casa o jogou no chuveiro quente, o vestiu com sua roupas demoníacas, lhe deu um cobertor quente uma xícara de toddy, e um delicioso lanche, ele dormiu e acordou bem, passou a tarde ouvindo conselhos do seu amigo que de fato o queria ver bem, alguns dias depois voltou pra casa e encontrou sua irmã super. Falante e lhe perguntando se ele tinha aprendido alguma lição, ele se calou ante ao fato que dependia dela pra comer e morar, e muitas outras coisas aconteceram na sua vida até ele entender que se tratava de uma patologia mental, o que acontecia com ela, não o deixando nem um sentimento de rancor ou ódio.

Esqueci-me de citar o fato que durante as horas congelantes no chão muitas pessoas que dizem ter Deus no coração passaram por ele, e desviaram, e o menino satânico o ajudou tudo bem eram amigos né, alguém pode dizer hoje porem o menino já adulto, se lembra dessa historia sem nem uma magoa segurando em seus braços sua filhinha recém-nascida, a protegendo do frio e de todos os sentimentos de abandono do mundo, ele a observa dormir em paz.

2 comentários:

  1. mto bom

    to seguindo, segue ai tb

    http://bajseries.blogspot.com/

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  2. eu sou o menino satanico, hoje um adulto, talvez ainda satanico, mas que encheu os olhos de lagrimas ao saber que ainda existe no mundo sentimento de gratidão

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